Esqueço teus olhos. Esqueço tua pele. Esqueço o cheiro que só existe em certas partes do teu corpo. Esqueço-me de mim também, e muito. Morro, por vezes. Então escrevo para contar àquela de mim do que me compus. E escrevo de novo para lembrar a ti do que me fizeste.
É estranho que o mundo silencie, breve e triste, e que na minha boca fechada as palavras batam asas, angústia de dizer, e o corpo se agite, animal faminto. Tu permaneces, acima das horas e sobre os dias, como se horas e dias não houvesse, como se o tempo fosse um besouro preso nos meus cabelos e os teus dedos fossem a sua improvável salvação. Não me comove a chuva, ou a beleza do silêncio. Sou toda eu, um esgar contido, um pequeno frêmito da superfície onde nas profundezas desmoronam cada um dos meus degraus.
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